Ninguém sabe andar na rua como as crianças.
Para elas é sempre uma novidade, é uma constante festa transpor umbrais.
Sair à rua é para elas muito mais do que sair à rua.
Vão com o vento.
Não vão a nenhum sítio determinado,
não se defendem dos olhares das outras pessoas
e nem sequer,
em dias escuros,
a tempestade se reduz,
como para a gente crescida,
a um obstáculo que se opõe ao guarda chuva.
Abrem-se à aragem.
Não projectam sobre as pedras, sobre as árvores, sobre as outras pessoas que passam, cuidados que não têm.
Vão com a mãe à loja, mas apesar disso vão sempre muito mais longe.
E nem sequer sabem que são a alegria de quem as vê passar e desaparecer.
Ruy Belo
Fotos: Manuela Soares e Jornal das Caldas
Dia Mundial da Poesia 2008. Homenageámos Ruy Belo na biblioteca das Caldas, depois de o mesmo também ter acontecido em Rio Maior por iniciativa da câmara local, no 75º aniversário do seu nascimento, com a presença de Teresa Belo, viúva do poeta, e do nosso amigo Henrique Fialho, também poeta de Rio Maior, muito entendido sobre a obra e a vida do homenageado, um dos maiores da nossa poesia.
E dissemos emocionados o poema em cima, a convite da direcção da Comunidade de Leitores de Caldas da Rainha.